Atualmente, apenas 5% do lixo produzido no País é reciclado.Mas grandes empresas e ONGs estão provando que o setor pode trazer dinheiro, atrair empreendedores e gerar empregos.

Há tempos que o lixo deixou de ser visto como problema e passou a ser considerado uma oportunidade para empreender.
Diante da gravidade da situação ambiental e econômica mundial, iniciativas na área são consideradas cada vez mais urgentes.
E essa constatação, que já mobiliza os países desenvolvidos, tem avançado cada vez mais no Brasil, fazendo grandes empresas expandirem sua atuação.
O País ainda tem muito a avançar nessa agenda.
Para se ter uma ideia, apenas 5% dos materiais potencialmente recicláveis chegam a ser de fato aproveitados no Brasil.
O índice é ainda pior no caso dos resíduos orgânicos.
Eles representam cerca 50% do lixo doméstico brasileiro; contudo, estes materiais possuem baixa taxa de recuperação, estima-se que apenas 0,2% dos materiais orgânicos são recuperados por técnicas de reciclagem.
Somados aos resíduos de atividades agrícolas e industriais, há uma geração anual de 800 milhões de toneladas que poderiam ser utilizadas.
A Gerdau e a Novelis, que são pioneiras na América Latina em reciclagem de sucatas, provam que vale a pena investir no setor, como já fazem China, África do Sul, Argentina e Chile.
Segundo Juliana Campedelli, gerente de conhecimento da ONG Artemísia, somente 5,3% dos materiais secos potencialmente recicláveis foram de fato reciclados em 2019.
“Isso significa que boa parte desses materiais ainda é destinada a aterros e lixões”, afirma, explicando que a Artemísia, juntamente com a Gerdau, mapeou as tendências na área de reciclagem.
A Gerdau hoje tem na sucata uma importante matéria-prima: 73% do aço que produz é feito a partir desse material.
Todo ano, segundo o CEO da empresa, Gustavo Werneck, 11 milhões de toneladas de sucata são transformadas em diversos produtos de aço.
Este ano, por exemplo, o palco do Rock in Rio será feito somente com aço reciclável da companhia, mostrando que há uma infinidade de destinos para esse tipo de resíduo.
“O aço é um material que pode ser reciclado infinitas vezes sem perder suas propriedades. Além disso, a reciclagem tem efeitos positivos na mitigação das mudanças climáticas, porque poupa recursos naturais, reduz o consumo de energia e a emissão de gases de efeito estufa. E é uma importante fonte de renda para muitos brasileiros”, destaca o executivo.
Atuando desde 2013 com o projeto Gestão de Cooperativas, a Novelis, em parceria com a ONG Reciclázaro, também faz do lixo uma fonte de lucro.
“Toda vez que a companhia aumenta a capacidade de laminação para a produção de chapas de alumínio, aumenta também a capacidade de reciclagem do metal. Para ela, o modelo de negócio baseado na economia circular já é um sucesso no Brasil. Conseguimos tanto sucesso nesse jeito de fazer negócio que queremos expandir para outros países da região”, explica Eunice Lima, diretora de relações governamentais da companhia na América do Sul.
De acordo com a executiva, em 2021 a empresa bateu o recorde do Índice de Reciclagem de latinhas no Brasil, reaproveitando 21 bilhões de latas de alumínio.
Olhando pelo viés de oportunidade, de empreendedorismo e de emprego, existem vários caminhos.
É o caso de organizações que criam programas de incentivos, de alternativas de destinação em condomínios e que incentivam o engajamento da população em geral.
Uma dessas empresas é o Grupo Muda, que implementa a infraestrutura para coleta seletiva em condomínios, oferece um aplicativo com plano de fidelidade e cuida de toda a logística de retirada e transporte dos resíduos até as cooperativas de catadores de recicláveis de baixa renda.
Capacitação
Alexandre Furlan, fundador do Muda, conta que desenvolveu o programa de educação de moradores de condomínio, ainda quando estudante de gestão ambiental, em 2009.
“O grupo nasceu do meu desejo de reciclar meu lixo e hoje temos duas áreas de atuação: fazemos a implementação da coleta seletiva de cerca de 800 condomínios da cidade de São Paulo, desde o projeto até a coleta nas cooperativas”, explica.
Estudos apontam que o Brasil tem alto potencial para se empreender, expandir negócios e gerar empregos, pelo menos um milhão de vagas.
Com a regulamentação do Recicla+, lei sancionada em 2010 e regulamentada em janeiro 2022, o mercado de reciclagem ganhou mais fôlego e deixou empreendedores como Furlan mais otimistas.
“Hoje o mercado avançou demais, principalmente por conta da lei. No meu nicho isso foi essencial, porque pegou na goela dos empresários, já que se você não fizer a logística reversa você não tem a licença da Cetesb, a agência ambiental do governo paulista”, argumenta.
Fonte:
Juliana Campedelli, gerente de conhecimento da ONG Artemísia.
Gustavo Werneck. CEO da empresa Artemísia.
Eunice Lima, diretora de relações governamentais da companhia na América do Sul.
Alexandre Furlan, fundador do Muda.
ISTOÉ Economia.