A mente nos engana e não nos damos conta

Comece a perceber que o seu cérebro está cheio de armadilhas. As consequências de pensar depressa demais.

 

A mente nos engana (e não nos damos conta)

 

Nem tudo é o que parece.

Basta uma simples experiência para comprovar isso.

Suponhamos que Steve seja uma pessoa selecionada ao acaso de uma amostra representativa.

Um morador o descreve como alguém muito tímido e retraído, sempre prestativo, mas pouco interessado nas pessoas ou no mundo real.

De natureza disciplinada e metódica, precisa ordená-la e organizar tudo.

Além disso, tem obsessão pelo detalhe.

Talvez, a primeira resposta que nos venha à cabeça é que Steve seja bibliotecário?

Afinal, parece reunir as qualidades típicas desses profissionais.

No entanto, a resposta correta é agricultor.

Nos países ocidentais, como os Estados Unidos, existe um bibliotecário para cada 20 agricultores.

Se Steve foi escolhido aleatoriamente, é mais provável que ele cultive a terra.

Nossa mente nos engana. Ou, melhor dizendo, pensar rápido nos engana.

Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2002 graças a esse trabalho (Tversky morrera alguns anos antes).

Chegaram à conclusão de que temos duas formas de pensar, dois sistemas operacionais.

Sistema 1 – reativo: é ligado ao pensamento rápido e automático.

Nele são formados os julgamentos e as ideias preestabelecidas.

Nessa etapa também são processadas as decisões intuitivas e as do especialista, que depois de muitos anos de trabalho é capaz de reconhecer algo apenas batendo o olho.

O sistema reativo é também o encarregado de responder quando uma pessoa está em pleno sequestro emocional, ou seja, quando vive uma emoção com muita intensidade, o que dificulta ver as coisas com clareza.

Sistema 2 – ou consciente, está ligado ao pensamento lento, que precisa de tempo para elaborar a conclusão.

É ativado quando a atenção é plena e se encarrega dos cálculos complexos e da concentração.

Todos nós temos esses dois sistemas, mas o mais curioso é que o sistema 2 está normalmente em segundo plano.

Como reconhece Kahneman em seu interessantíssimo livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar (Objetiva), nosso cérebro é preguiçoso por pura sobrevivência.

Consome cerca de 20% da glicose e do oxigênio que estão em nosso corpo, apesar de representar menos 5% de sua massa.

Para evitar um consumo excessivo, ativamos o modo automático, o sistema 1 ou reativo.

Em outras palavras, respondemos e agimos segundo a primeira coisa que nos vem à cabeça, sem elaborar muito.

Esse fazer sem pensar nos leva a colocar rótulos nas pessoas que vemos ou que acabamos de conhecer.

Nos deixamos arrastar por seu estilo na hora de vestir, por sua forma de ser, por sua tendência sexual e por tantos outros vieses inconscientes que evitam que tomemos decisões mais reflexivas e inteligentes.

Diversas pesquisas indicam que as pessoas que se movem pelo sistema 1 costumam tomar decisões mais egoístas, mais superficiais e claro, usam uma linguagem mais sexista.

 

Mas, nem tudo está perdido.

Temos a capacidade de evitar cair nos braços do sistema reativo ante o primeiro desafio que surja.

A chave consiste em refletir antes de tomar uma decisão importante ou quando conhecemos alguém.

No fundo, é despertar o sistema 2, prestar maior atenção.

Por isso, não surpreende que muitas empresas de vanguarda, que buscam diversidade e inovação, capacitem seus funcionários sobre como evitar os vieses inconscientes.

Podemos realizar esse trabalho nós mesmos levando em conta como o nosso cérebro funciona, sendo conscientes de que está cheio de armadilhas.

Se aplicarmos esse aprendizado no exercício de Steve, valeria à pena perguntar se não existem agricultores meticulosos.

Essa pergunta abriria novas possíveis respostas.

 

Fonte:

Psicólogos: Dr. Amos Tversky e Dr.Daniel Kahneman.

Revista Science – A mente nos engana e não nos damos conta. As consequências de pensar depressa demais. O seu cérebro está cheio de armadilhas.

El País Brasil.

 

 

 

 

 

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