A resposta de congelamento é um mecanismo fisiológico do estresse. Especialistas explicam como recuperar o controle e ampliar sua tolerância em situações de pressão

No trabalho, diante de uma pergunta inesperada da liderança ou de uma apresentação decisiva, muitos profissionais já tiveram a sensação de que a mente simplesmente parou de funcionar e, mesmo com todo o conhecimento acumulado sobre um projeto, as palavras não vêm.
Esse bloqueio, longe de ser um sinal de incapacidade, é resultado de um fenômeno fisiológico conhecido como resposta de congelamento.
Béatriz Victoria Albina, coach de vida somática e autora de “End Emotional Outsourcing: How to Overcome Your Codependent, Perfectionist, and People-Pleasing Habits” (Acabe com a terceirização emocional: como superar seus hábitos codependentes, perfeccionistas e de agradar as pessoas), observou que essa é uma das reações mais incompreendidas do nosso corpo ao estresse.
“A maioria das pessoas já ouviu falar da resposta de luta ou fuga, mas congelar? Essa quase não é discutida, embora possa ser a reação mais comum em situações de trabalho”, salientou.
E explicou como exatamente ela acontece:
“Quando o cérebro detecta o que percebe como uma ameaça e sim, uma pergunta inesperada do seu chefe conta como ameaça para o seu sistema nervoso, ele aciona o alarme interno. Sua amígdala, aquela pequena estrutura em forma de amêndoa que está sempre em alerta contra perigos, envia um sinal de emergência. Em questão de milissegundos, o corpo precisa decidir: enfrento essa ameaça, fujo dela ou congelo e espero que desapareça? E aqui está a questão sobre situações no ambiente de trabalho: você não pode simplesmente atacar o chefe nem sair correndo da sala de reunião. Então, a saída é congelar”.
No “congelamento”, Albina acrescentou, o sistema nervoso simpático inunda o corpo com hormônios do estresse, mas, em vez de mobilizar a pessoa para agir, esses químicos apertam “override” parassimpático (botão de pausa).
Os músculos então, ficam tensos, a respiração fica superficial e o fluxo de sangue para o córtex pré-frontal é reduzido.
“É por isso que, de repente, você não consegue acessar informações que conhece muito bem. Não é que elas tenham desaparecido, mas sim que os caminhos para acessá-las ficam temporariamente bloqueados”, relatou.
Pesquisas mostram que a resposta de congelamento é caracterizada por redução dos movimentos corporais, tensão muscular e o que os cientistas chamam de “imobilidade tônica,” a versão do corpo de “fingir-se de morto”.
Essa resposta, indica a especialista no artigo, evoluiu porque, em alguns cenários, quando lutar ou fugir não é uma opção, a melhor estratégia de sobrevivência é permanecer absolutamente imóvel e esperar que o predador perca o interesse.
“O problema é que o sistema nervoso não distingue entre um tigre dente se sabre e uma pergunta difícil feita por um gestor. Para o cérebro ancestral, ambos representam ameaças potenciais à sua sobrevivência e ao seu status dentro do grupo”, escreveu ela.
Como lidar com o congelamento
A resposta de congelamento pode se manifestar de várias formas.
Por exemplo, procrastinar em projetos importantes, ficar em silêncio durante sessões de brainstorming, evitar eventos de networking ou deixar de se manifestar em reuniões de equipe.
Quando isso acontece, mesmo que o profissional seja excelente, a liderança o enxerga como não sendo engajado, comprometido.
O que fazer então para sair dessa situação?
Albina apontou que é preciso entender que não dá para simplesmente “pensar” para sair de uma resposta de congelamento.
Isso não é um problema cognitivo, é uma reação fisiológica que exige intervenções fisiológicas.
“Ao perceber que está começando a congelar, a primeira coisa é se reconectar com o corpo. Experimente: pressione firmemente os pés no chão. Sinta o peso do seu corpo na cadeira. Respire três vezes de forma lenta e profunda, prolongando mais a expiração do que a inspiração. Isso ativa o sistema nervoso parassimpático e ajuda a trazer você de volta ao corpo”, ensinou.
Outra técnica recomendada é o que ela chama de “catálogo de aterramento.”
“Quando sentir que está congelando, observe mentalmente: cinco coisas que você consegue ver, quatro coisas que consegue ouvir, três coisas que consegue tocar, duas coisas que consegue cheirar e uma coisa que consegue saborear. Isso força sua atenção a voltar ao momento presente.”
Além disso, se estiver em uma reunião e alguém fizer uma pergunta que acione a resposta de congelamento, ganhe tempo.
Diga algo como: Essa é uma ótima pergunta; deixe-me pensar um pouco sobre isso, ou quero garantir que eu dê uma resposta completa, posso voltar a isso em um minuto?
Mas o verdadeiro trabalho acontece fora dos momentos de crise, de acordo com a especialista.
Para reduzir a tendência a congelar no trabalho, é necessário trabalhar no aumento do que os pesquisadores chamam de “janela de tolerância” ou seja, a capacidade de lidar com o estresse sem ficar sobrecarregado.
Isso significa cuidar do sistema nervoso diariamente.
Mas como?
Com exercícios regulares, sono adequado, boa alimentação e práticas de manejo do estresse.
Também é fundamental se expor gradualmente a situações desencadeadoras de forma controlada.
“Se falar em grandes reuniões faz você congelar, comece praticando em grupos menores. Se perguntas inesperadas são o seu gatilho, pratique respostas improvisadas com colegas de confiança”, indicou Albina.
Quando souber que vai enfrentar uma situação potencialmente desencadeadora, prepare seu sistema nervoso, não apenas o conteúdo.
Antes de uma reunião desafiadora, reserve alguns minutos para exercícios de respiração ou alongamentos leves.
Visualize-se permanecendo calmo e centrado.
Lembre-se de que você pertence àquela sala e de que sua perspectiva tem valor.
Um ponto importante a se trabalhar é o ciclo da vergonha.
Ao congelar em uma reunião, a pessoa tende a sentir vergonha, mas a coach afirmou que é muito importante resistir a esse impulso, pois isso diminui a probabilidade de congelar no futuro.
“Pratique a autocompaixão. Fale consigo mesmo como falaria com um bom amigo que estivesse enfrentando dificuldades. Lembre-se de que a resposta de congelamento é normal, humana e, na verdade, bastante comum”, ela garantiu.
Em situações de congelamento, é necessário compreender o que está acontecendo, desenvolver ferramentas para lidar com a resposta e, gradualmente, ampliar a capacidade de enfrentar momentos desafiadores.
Comece pequeno.
Escolha, nesta semana, uma situação de baixo risco em que você possa praticar permanecer presente quando sentir que a resposta de congelamento está começando.
Coloque em prática suas técnicas de aterramento.
Dê a si mesmo permissão para ocupar espaço.
“Lembre-se de que, a cada vez que você interrompe a resposta de congelamento, está literalmente reprogramando seu sistema nervoso”, finalizou Albina.
Em artigo publicado na Fast Company,
Fonte:
Béatriz Victoria Albina, coach de vida somática e autora de End Emotional Outsourcing: How to Overcome Your Codependent, Perfectionist, and People-Pleasing Habits – Acabe com a terceirização emocional: como superar seus hábitos codependentes, perfeccionistas e de agradar as pessoas.
Época Negócios – Futuro do Trabalho.
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