Amizade no trabalho está desaparecendo, e quem paga a conta são as empresas

Pesquisa nos EUA mostra que apenas 20% dizem ter um melhor amigo na empresa, vínculos estreitos elevam o comprometimento em 43% e a satisfação em 27%. Líderes precisam criar espaços e projetos que reconstruam pertencimento e segurem a rotatividade.

 

 

O ambiente de trabalho não é só para trabalhar.

Também serve para construir relações significativas, trocar ideias e sentir-se parte de algo maior.

Mas cada vez menos pessoas têm vivenciado isso.

Uma pesquisa da Gallup revela que apenas 20% dos profissionais nos Estados Unidos têm um melhor amigo na empresa, e só um em cada cinco investe ativamente nesses relacionamentos.

Em artigo publicado no Inc.    O consultor e palestrante Mark C. Crowley, escreveu que o impacto da perda de amizades no local de trabalho é frequentemente subestimado, especialmente em discussões sobre rotatividade de funcionários.

“Embora  acredite que as pessoas geralmente pedem demissão em resposta a gerentes ruins, o professor de Oxford Jan-Emmanuel De Neve, descobriu que os trabalhadores pedem demissão não apenas por questões de liderança, mas por falta de senso de pertencimento às suas equipes. Isso reformula a questão: as amizades no local de trabalho não se limitam à socialização, elas são cruciais para a retenção e o sucesso sustentável dos negócios”, salientou.

Mas por que esses relacionamentos estão diminuindo?

Segundo Crowley, autor de O Poder do Bem-Estar dos Funcionários: vá além do Engajamento para Construir Equipes Prósperas e Liderar com o Coração: liderança Transformacional para o Século XXI, amizades não surgem por acaso.

Elas se desenvolvem por meio de experiências compartilhadas, conversas casuais e interações recorrentes ao longo do tempo.

Contudo, a dinâmica atual do ambiente de trabalho torna cada vez mais difícil a formação desses laços.

“A tecnologia em que confiamos para tornar a comunicação mais rápida e eficiente tem a desvantagem de tornar as interações mais transacionais. Em vez de passar na mesa de um colega para uma conversa significativa, enviamos mensagens de texto, e-mails e mensagens do Slack impessoais”, listou o autor.

Ele acrescentou que horários de trabalho remoto e híbrido agravam o problema, eliminando experiências cotidianas que antes impulsionavam relacionamentos como pausas para café, almoços e conversas antes e depois de reuniões importantes.

Outro ponto, segundo o especialista, é que as empresas priorizam cada vez mais o desempenho individual em detrimento das conquistas da equipe.

Consequências da falta de amizades

A pesquisa da Gallup demonstrou que funcionários com laços estreitos são 43% mais comprometidos e 27% mais satisfeitos com seus empregos.

Isso também fornece um sistema de apoio essencial, ou seja, alguém com quem comemorar vitórias, brincar, desabafar após experiências difíceis e colaborar de uma forma que torna a atividade mais agradável.

“Sem esses relacionamentos, os locais de trabalho correm o risco de se tornarem isolados, pouco inspiradores e ainda menos inovadores. Ter amizades verdadeiras no trabalho não só melhora a saúde mental, como também aumenta o bem-estar, um fator crucial para o desempenho.” observou Crowley.

O autor citou no artigo alguns estudos que corroboram isso.

Um deles é de Sonja Lyubomirsky, pesquisadora de psicologia positiva da Universidade da Califórnia, em Riverside, nos Estados Unidos.

Ela descobriu que mesmo pequenos pontos de conexão ao longo do dia podem aumentar a felicidade mais do que as pessoas imaginam.

“Conversar com outras pessoas nos deixa felizes”, afirmou ela.

Outra citação é uma pesquisa sobre felicidade do psicólogo Ed Diener, que constatou que os indivíduos mais realizados não são apenas bem-sucedidos em suas carreiras, eles também são profundamente sociáveis.

E tem mais: uma análise de 2020 da Deloitte mostrou que o senso de pertencimento – sentir-se valorizado e incluído pelo lider e pelos colegas é o principal impulsionador do bem-estar dos funcionários.

Isso porque o pertencimento promove segurança psicológica, resiliência e autoestima.

Papel dos líderes

De acordo com Crowley, para reverter esse declínio, os líderes precisam reconhecer que as amizades no local de trabalho não são inevitáveis, e exigem um desenvolvimento ativo.

“Criar um ambiente de trabalho mais conectado certamente exige esforços intencionais, mas os benefícios de construir uma equipe verdadeiramente coesa superam em muito o investimento de tempo e energia”, indicou.

Diante disso, ele recomendou que os líderes priorizem a construção de espaços sociais, seja por meio de atividades dedicadas à formação de equipes ou de reuniões informais que incentivem os funcionários a se envolverem entre si além das tarefas diárias.

Para equipes remotas e híbridas, promover a conexão significa ir além da criação de oportunidades para bate-papos virtuais e adicionar canais do Slack para a equipe, centralizados em seus interesses.

“Reunir as pessoas para dias de conexão presencial regulares continua sendo essencial.” Apontou.

Incentivar projetos colaborativos também pode unir os funcionários de uma forma natural.

“Quando os colegas trabalham em prol de um objetivo comum, as amizades se desenvolvem organicamente. A rotação de pessoas em diferentes equipes colaborativas também garantirá que relacionamentos mais próximos sejam construídos de forma mais ampla”, complementou o autor no artigo.

Fonte:

Palestrante Mark C. Crowley.

Sonja Lyubomirsky, pesquisadora de psicologia positiva da Universidade da Califórnia.

Psicólogo, Ed Diene.

Deloitte, 2020.

Época Negócios – Futuro do Trabalho.

Mundiblue/Silânia Costa, Enfermeira do Trabalho.

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