Idadismo: o Preconceito pela Idade que Afeta Todas as Gerações

O envelhecimento populacional é um fenômeno global e inevitável. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos dobrará, alcançando 2 bilhões. Apesar dessa tendência demográfica, o preconceito por idade, conhecido como idadismo ou etarismo, ainda é uma das formas mais normalizadas e negligenciadas de discriminação no mundo.

 

 

O idadismo não afeta apenas os idosos.

Jovens também são frequentemente subestimados e estereotipados com base em sua idade.

Essa discriminação pode ocorrer em ambientes sociais, familiares, institucionais e principalmente, no mercado de trabalho, com sérias consequências para a saúde mental,  autoestima e a economia.

O que é Idadismo?

O termo idadismo foi cunhado pelo gerontologista Robert N. Butler em 1969 para descrever a discriminação sistemática contra pessoas com base em sua idade.

A OMS define o idadismo como “os estereótipos, preconceitos e discriminações direcionados a pessoas com base em sua idade”.

Assim como outras formas de preconceito, como o racismo ou o sexismo, o idadismo se manifesta por meio de crenças infundadas, atitudes negativas e práticas excludentes.

O diferencial é que todos os seres humanos, em algum momento, podem ser afetados por ele, seja na juventude ou na velhice.

As Três Dimensões do Idadismo

Segundo a literatura científica, o idadismo se manifesta em três dimensões principais:

  1. Estereótipos: crenças generalizadas sobre características, comportamentos ou competências de pessoas com base em sua idade. Ex.: idosos são frágeis, jovens são irresponsáveis.
  2. Preconceitos: emoções negativas ou atitudes desfavoráveis em relação a indivíduos por causa de sua idade.
  3. Discriminação: ações ou políticas que excluem ou prejudicam pessoas por sua idade. Ex.: não contratar alguém por ser considerado muito velho ou muito jovem.

Manifestações do Idadismo

O idadismo pode ser institucional, interpessoal ou interno.

1. Idadismo Institucional

Presente nas leis, políticas públicas e práticas organizacionais. Por exemplo, limites de idade para contratação, aposentadorias compulsórias ou programas de saúde que não priorizam idosos.

2. Idadismo Interpessoal

Ocorre nas interações do dia a dia, como piadas, comentários pejorativos ou atitudes paternalistas em relação a idosos e jovens.

3. Idadismo Interno

Quando a pessoa incorpora estereótipos negativos sobre sua própria idade, afetando sua autoestima e bem-estar. Um exemplo clássico é o idoso que evita praticar esportes por acreditar que não tem mais idade para isso.

O Impacto do Idadismo na Saúde e na Sociedade

Estudos mostram que o idadismo tem efeitos negativos significativos em diversos aspectos da vida:

1. Saúde Física e Mental

Pesquisas publicadas na revista The Lancet indicam que a exposição constante a estereótipos negativos de envelhecimento está associada a maior risco de doenças cardiovasculares, depressão e redução da expectativa de vida.

2. Bem-estar e Qualidade de Vida

O idadismo interno compromete o engajamento social, reduz a prática de atividades físicas e dificulta a adoção de hábitos saudáveis, impactando negativamente a qualidade de vida.

3. Economia e Mercado de Trabalho

O relatório A Economia da Longevidade, publicado pela Oxford Economics, estima que a exclusão de trabalhadores mais velhos do mercado de trabalho gera uma perda de trilhões de dólares para a economia global. O mesmo se aplica aos jovens, frequentemente rejeitados por falta de experiência.

4. Relações Sociais

O preconceito por idade afeta os vínculos interpessoais e pode levar ao isolamento social, especialmente entre idosos, contribuindo para a solidão e outras condições de vulnerabilidade.

Idadismo no Mercado de Trabalho: Um Obstáculo para a Diversidade Etária

O ambiente profissional é um dos espaços onde o idadismo mais se manifesta.

De um lado, empresas relutam em contratar trabalhadores mais velhos, sob o argumento de que são menos produtivos ou resistentes a mudanças.

De outro, jovens são estigmatizados como imaturos ou inexperientes.

Estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em 2023 revelou que mais de 60% dos profissionais acima de 50 anos sentem que suas chances de recolocação no mercado são significativamente menores devido à idade.

Além disso, uma pesquisa do LinkedIn aponta que 30% dos jovens sentem que sua idade prejudica sua credibilidade e avanço profissional.

Essa visão limitada desconsidera a riqueza que a diversidade etária traz, com diferentes perspectivas, habilidades e experiências complementares.

Causas do Idadismo

O idadismo é alimentado por fatores culturais, sociais e psicológicos

1. Cultura da Juventude

A valorização exacerbada da juventude na mídia e na sociedade cria um ideal inatingível de beleza, produtividade e inovação, marginalizando aqueles que não se encaixam nesse perfil.

2. Medo da Velhice

O receio de envelhecer, associado a perdas físicas e cognitivas, alimenta atitudes negativas em relação aos idosos.

3. Falta de Educação Gerontológica

A ausência de informações adequadas sobre o processo de envelhecimento contribui para a perpetuação de mitos e estereótipos.

Como Combater o Idadismo?

Superar o idadismo exige ações em múltiplos níveis

1. Educação e Conscientização

Promover campanhas que desconstruam estereótipos e valorizem a diversidade etária, como a iniciativa “Decade of Healthy Ageing” da ONU (2021-2030).

2. Políticas Públicas Inclusivas

Criar leis que proíbam a discriminação por idade em todos os setores, como já ocorre em alguns países europeus e nos Estados Unidos, com o Age Discrimination in Employment Act.

3. Programas Intergeracionais

Estimular iniciativas que promovam o convívio entre diferentes gerações, favorecendo a troca de experiências e reduzindo preconceitos.

4. Reestruturação do Mercado de Trabalho

Revisar práticas de recrutamento e desenvolvimento de carreira para eliminar barreiras etárias, promovendo ambientes inclusivos e diversos.

Exemplos de Boas Práticas

Algumas organizações já lideram ações contra o idadismo:

  • Banco Santander: lançou programas de contratação e retenção de profissionais com mais de 50 anos.
  • Google: implementou políticas explícitas de combate ao preconceito por idade.
  • Programa Generations: ONG que prepara trabalhadores mais velhos para reingressarem no mercado com qualificação e apoio psicológico.

O Papel da Psicologia no Enfrentamento do Idadismo

A psicologia desempenha um papel fundamental no combate ao idadismo, tanto na promoção da saúde mental quanto na desconstrução de crenças limitantes.

Terapias cognitivas podem ajudar indivíduos a superar o idadismo internalizado, promovendo maior autoestima e qualidade de vida.

Além disso, profissionais de saúde devem receber formação específica sobre envelhecimento, evitando atitudes paternalistas ou discriminatórias no atendimento a idosos.

Idadismo e Interseccionalidade

É importante reconhecer que o idadismo não atua isoladamente.

Ele se entrelaça com outras formas de discriminação, como racismo, sexismo e capacitismo, amplificando vulnerabilidades.

Por exemplo, mulheres idosas frequentemente enfrentam um duplo preconceito: pelo gênero e pela idade.

Esse fenômeno, conhecido como dupla discriminação, exige uma abordagem interseccional para ser combatido de forma eficaz.

Por uma Sociedade Livre de Idadismo

O combate ao idadismo é um imperativo ético, social e econômico.

Construir uma sociedade onde todas as idades sejam valorizadas, respeitadas e incluídas é fundamental para o bem-estar coletivo e o desenvolvimento sustentável.

Romper com estereótipos, eliminar barreiras institucionais e promover a convivência intergeracional são passos essenciais para um futuro mais justo.

Como destaca a OMS: “o idadismo é um obstáculo para políticas e ações eficazes de saúde, bem-estar e desenvolvimento”.

Portanto, cabe a cada um de nós refletir: como posso contribuir para uma cultura que valoriza a diversidade etária e rejeita o preconceito por idade?

 

Referências

  • World Health Organization. (2021). Global report on ageism.
  • Levy, B. R. (2009). Stereotype embodiment: A psychosocial approach to aging. Current Directions in Psychological Science.
  • North, M. S., & Fiske, S. T. (2012). An Inherent Age Bias? Psychological Bulletin.
  • Oxford Economics. (2020). The Longevity Economy Outlook.

Fonte:

Eduvem – Plataforma líder na construção de Universidades Corporativas, reconhecida internacionalmente pela experiência inovadora de aprendizagem digital.

Mundiblue.

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