As empresas que estão levando jovens ao burnout no início da carreira

Existem empresas com alta rotatividade de funcionários jovens, o que pode prejudicar os profissionais logo no início da carreira.

 

Mulher trabalhando com camiseta na mão enquanto usa tablet
Alguns profissionais jovens acabam recebendo tarefas inesperadas nos seus empregos. Getty Images.

 

Especialistas afirmam que existem muitas empresas que contratam especificamente recém-formados que estão tentando ir atrás das suas paixões,  muitas vezes, em carreiras competitivas ou até glamourosas.

Em alguns casos, pode ser ótimo para esses profissionais, que estão procurando uma forma de entrar em um setor dos seus sonhos.

Mas, às vezes, os funcionários jovens podem ficar desmotivados em funções extenuantes com baixos salários, já que os empregadores sabem que as eventuais vagas sempre serão muito cobiçadas.

Estas situações podem fazer com que os profissionais em início de carreira, que estão procurando se estabelecer, fiquem vulneráveis ao burnout ou à desilusão logo no início da vida profissional.

Sem as sombras da experiência

Muitos empregos são formados com a expectativa de que os profissionais jovens irão crescer dentro da empresa.

Muitas vezes, existem caminhos definidos para a promoção e objetivos a serem alcançados.

Às vezes, as empresas chegam a oferecer programas de formação e desenvolvimento para orientar os funcionários recém-contratados a atingir cargos mais altos.

Mesmo se o progresso for trabalhoso, muitos empregadores preferem investir em profissionais que permaneçam na empresa.

Mas os especialistas afirmam que outras companhias adotam uma abordagem diferente.

Elas formam infraestruturas nas quais contratam funcionários jovens com pouca ou nenhuma oportunidade de ascensão e os entopem de tarefas trabalhosas.

Nestas situações, as empresas muitas vezes esperam que esses jovens profissionais se demitam em algum momento, seja porque estão em um beco sem saída ou devido ao burnout gerado pelo cargo.

*Eles são então geralmente substituídos por outros profissionais jovens, que terão o mesmo destino.

É claro que, muitas vezes, espera-se que os funcionários jovens se esforcem nos primeiros anos das suas carreiras, mostrando ambição, persistência e resiliência no ambiente de trabalho, de certa forma, para ganhar experiência.

Mas nem todo profissional jovem sem um caminho explícito rumo ao crescimento fica em uma empresa que, intencionalmente, cria rotatividade entre seus talentos iniciantes, segundo a professora Helen Hughes, da Escola de Negócios da Universidade de Leeds, no Reino Unido.

Ela cita como exemplo o setor de relações públicas, em que os cargos iniciais de salário mais baixo enquadram-se na trajetória de carreira da pessoa, a expectativa é que, nos estágios iniciais, você precisa assumir cargos de nível júnior antes de poder progredir.

Mas algumas empresas decidem formar o que Hughes chama de “modelo de visão curta”.

E existem muitas razões que levam as empresas a decidir pela rotatividade dos seus funcionários jovens, em vez de investir neles.

Em primeiro lugar, existem as implicações financeiras.

Os recém formados começam no ponto mais baixo da escada com salários iniciais e não têm as mesmas expectativas de compensação dos funcionários com experiência.

“Os empregadores, muitas vezes, contratam recém-formados para poder pagar menos”, segundo Dominik Raškaj, gerente de marketing do site de empregos Posao.hr, com sede na Croácia. É, de fato, uma fonte de mão de obra barata e subvalorizada.”

Além disso, os profissionais iniciantes podem ser maleáveis e dispostos a aceitar determinadas condições de trabalho.

“Quanto menos experiência tiver o funcionário, mais aberta é sua mente e, geralmente, mais ele aceita em um ambiente de trabalho. Eles não têm as sombras da experiência, o que traz vantagens para o empregador, eles podem ser moldados com mais facilidade.” afirma Hughes.

Mas isso pode fazer com que os profissionais jovens que desejam entrar em uma carreira fiquem suscetíveis a empregos mal remunerados ou ambientes de trabalho tóxicos.

“Os recém-formados podem ser vulneráveis à exploração, por não terem adquirido experiência para saber o que está certo e o que não está. Os recém-formados podem ficar com a sensação de que tudo realmente é competitivo, de forma que eles ficam desesperados para aceitar um cargo desafiador que pode não oferecer as melhores condições.” afirma Hughes.

Pode distorcer a visão de uma pessoa

Nestas situações, o risco imediato é o burnout.

Os profissionais podem ficar sobrecarregados pelas longas horas e imensas cargas de trabalho ou tarefas insignificantes.

E, devido à sua falta de experiência, podem ser incapazes de defender seus interesses.

Isso pode deixar os funcionários frustrados, no melhor dos casos, ou com alto nível de estresse.

Mas muitos acham que não têm escolha a não ser permanecer, especialmente se estiverem tentando entrar em determinados setores onde o ingresso é muito difícil.

E, para os profissionais jovens desesperados para estabelecer-se em uma carreira competitiva, enfrentando longas horas e más condições de trabalho, os efeitos podem ser traiçoeiros.

“Alguns podem decidir permanecer até o burnout porque estão em início de carreira. Mas, sem as experiências do passado para orientá-los, o risco é que eles aceitem que aquilo é o que o mercado de trabalho oferece, as más condições se tornem o normal e o profissional jovem acabe pensando que aquilo é tudo o que ele vale.” afirma Hughes.

Isso pode ter efeitos sérios e duradouros para esses profissionais jovens, prejudicando suas expectativas sobre o que significa estar no mercado de trabalho.

“Você vê os profissionais começarem a sair, reduz os esforços e exibe comportamentos de demissão silenciosa. Isso pode distorcer a visão de uma pessoa sobre o que significa uma carreira e seu relacionamento com o trabalho.” afirma Jim Harter, cientista-chefe de administração e bem-estar no local de trabalho da empresa de pesquisas norte-americana Gallup.

Os recém-formados podem ficar tão preocupados em conseguir um emprego que acham que qualquer coisa serve.

Mas trabalhar muito por longos períodos com salários baixos e sem solução à vista traz consequências de longo prazo.

Você se ajusta às normas à sua volta – normas ruins – logo no início da carreira.

A boa notícia é que o mercado de trabalho atual, favorável aos funcionários em muitos países ou setores, pode oferecer opções aos funcionários jovens, se eles acharem que estão sendo explorados em um cargo sem perspectiva de progresso, ou que o custo está ficando alto demais.

“Também existem agora mais perguntas sendo feitas sobre os empregos dos recém-formados. E existem mais denúncias sobre a falta de boas práticas de trabalho nas redes sociais, o que significa que a pressão por mudanças sobre as empresas que não cuidam dos seus funcionários jovens é maior.” afirma Hughes

Mas, mesmo em uma era de falta de profissionais em muitos países e críticas online, muitos desses ambientes tóxicos ainda se mantêm.

Isso significa que pode caber aos funcionários iniciantes reconhecer quando estão em má situação.

Identificar essa situação pode ser difícil, já que os funcionários com pouca experiência de trabalho podem não conhecer os padrões em um cargo inicial, em comparação com uma etapa mais à frente.

“É importante perceber, que ter um emprego que se ajuste em sua vida e te dê condições de saúde laboral e pessoal, é muito mais vantajoso do que a presa de ter um emprego….. neste, você se arrepende mas, a gente entende que as vezes é necessário para pagar o pão de cada dia”. Silânia Costa, Enfermeira do Trabalho e diretora na empresa Mundiblue.

Fonte:

Jim Harter, cientista-chefe de administração e bem-estar no local de trabalho da empresa de pesquisas norte-americana Gallup.

Professora Helen Hughes, da Escola de Negócios da Universidade de Leeds, no Reino Unido.

Dominik Raškaj, gerente de marketing do site de empregos Posao.hr com sede na Croácia.

Silânia Costa, Enfermeira do Trabalho e diretora na empresa Mundiblue.

BBC Brasil

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