Tema foi debatido no evento Café com as CEOs, que chega à quarta edição e contou com a presença de 70 executivas na sexta-feira dia 11/04/25 em São Paulo. Convidadas: a apresentadora Fernanda Lima e a médica Carolina Ambrogini.

Se é cada vez menos tabu falar de menopausa, há ainda uma série de desafios sobre o tema.
O acesso a informação e tratamento é muito desigual no Brasil, que carece de políticas públicas de saúde efetivas na inclusão de mulheres mais pobres.
No mercado de trabalho, as políticas corporativas ainda são incipientes para lidar com a menopausa, que muitas vezes coincide com a chegada de mulheres aos cargos mais altos ou atinge trabalhadoras que não têm flexibilidade em suas jornadas.
E é preciso disseminar com muito mais efetividade que há diversas opções de prevenção e tratamento para os sintomas, permitindo que as mulheres continuem saudáveis e produtivas nessa fase.
O encontro, que está na quarta edição e contou com a presença de cerca de 70 líderes na última sexta-feira 11/04/25, tem o propósito de fomentar a troca de experiências e discutir pautas importantes para as mulheres no mercado de trabalho.
“Escolhemos os temas menopausa e empreendedorismo (objeto do segundo painel) pois é importante ajudar a criar repertório e incentivar as políticas públicas e corporativas. Informação é poder de formar opinião, de ajudar a propor transformações”, afirmou Maria Fernanda Delmas, diretora de redação do Valor.
Carolina Ambrogini, que coordena o projeto Afrodite na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Fernanda Lima, que, aos 45 anos, descobriu que estava entrando na menopausa ao despertar no meio da madrugada sentindo calores, conversaram com Delmas e a editora-chefe da Maria Claire, Natacha Cortêz.
“Me senti solitária, pois as minhas amigas ainda não falavam sobre isso”, contou Lima.
Ambrogini ressaltou que existe um hiato entre as classes sociais quando o assunto é saúde feminina, até porque ainda hoje o Sistema Único de Saúde (SUS) não oferece terapia hormonal gratuita, já há discussões no Congresso sobre o tema, no entanto.
“Sabemos que é uma pequena parcela que consegue ter essa assistência, comentou, acrescentando que a Unifesp oferece tratamento que inclui apoio psicológico e nutricionista. No SUS, as mulheres chegam com 49, 50 anos, obesas, hipertensas, com risco cardiovascular muito mais elevado do que as mulheres que estão no meu consultório particular.”
Fernanda Lima tratou do tema menopausa na primeira temporada de seu podcast Zen Vergonha, em que fez pesquisa com especialistas e ouviu personalidades que contavam suas experiências, para que a voz dessas mulheres chegasse a um público amplo.
Aos 47 anos, ela frisa ter consciência de seu lugar de privilégio quando ressalta os sintomas da menopausa, pois sabe que muitas mulheres sofrem com os incômodos no transporte público lotado, buscam ajuda no SUS, mas não são bem atendidas.
“Elas são mandadas embora como se estivessem loucas e pensando que muitas outras coisas podem estar acontecendo, quando na verdade, estão entrando na menopausa”, observou.
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que cerca de 30 milhões de brasileiras estavam na faixa etária do climatério ou da menopausa em 2023, e 3% delas afirmaram saber do que se tratava.
Os sintomas podem incluir:
- insônia,
- ondas de calor,
- esquecimentos,
- ganho de peso,
- mudanças na pele.
Segundo Ambrogini, muitas mulheres ficam aliviadas ao ouvir no consultório: Não é demência precoce.
A médica contou ainda que, recentemente, houve um aumento de pacientes indo ao seu consultório para entender o que acontece com seus corpos ao entrarem na menopausa.
No entanto, ela afirmou que essas mulheres costumam chegar aflitas e se queixando de uma queda no rendimento profissional por conta dos sintomas.
O desafio é como comunicar isso no trabalho? Provocou.
“Não é fácil e, para além de todos os pratinhos que a gente precisa equilibrar, ainda tem esse prato gigante que é a menopausa e que nos pega de rasteira como aconteceu comigo”, relatou Lima.
As convidadas defenderam que é necessário debater o assunto com mais intensidade para que a sociedade como um todo entenda o que se passa com as mulheres durante esse período e, assim, elas passem a receber mais apoio.
Elas também falaram sobre como envolver os homens no debate a respeito da menopausa.
Na opinião de Lima, as mulheres terão um papel de explicar o que acontece nessa fase.
Apesar disso, a comunicadora contou já ter sido alertada de que falar sobre os sintomas da menopausa poderia dificultar ainda mais a entrada da mulher no mercado de trabalho.
“Isso porque podem pensar: não vamos botar a mulher como CEO porque se ela está perdendo memória ou se irritando, o comportamento dela já não é mais o mesmo de quando ela tinha 30 anos.”
Esse é um estigma que a boa informação pode combater.
Ambrogini destacou que a menopausa está associada a envelhecer e isso significa perder poder numa sociedade que valoriza a juventude.
A apresentadora, por sua vez, crê na possibilidade de virar o jogo:
“Esse pode ser o momento de ganhar poder, pois falar sobre menopausa se tornou um movimento mundial”, ponderou.
Lima acredita que a chegada da menopausa pode ser uma oportunidade de eliminar o que não está valendo a pena.
“Nós, mulheres, fazemos muitas coisas ao mesmo tempo. Como dar conta de tudo isso? Poder abrir mão de saber tudo também é uma espécie de liberdade”, afirmou.
*Para atravessar a fase com bem-estar, antes mesmo da chegada da menopausa, façam atividade física, melhorem a alimentação e reduzam o consumo de bebidas alcoólicas.
“Também é importante trabalhar o lado espiritual e se priorizar na fila de tarefas, focando as nossas preocupações, demandas e carga mental em nós mesmas e nos nossos prazeres”, acrescentou Lima.
Presente ao Café com as CEOs, a psicóloga e colunista do Valor Mariana Clark observou que a menopausa é, assim como outros ciclos da vida, um processo que gera perdas e mudanças de identidade, o que afeta as dimensões emocionais.
“É um luto que a sociedade não reconhece, mas que causa reverberações importantes e muitos sintomas que precisam de atenção”, alertou.
Segundo ela, muitas vezes não é o processo da menopausa em si que adoece, mas sim, a falta de espaço de expressão e validação dessas reverberações.
“Se eu sou invalidada no meu sofrimento e tenho que sofrer sozinha, isso sim, pode eventualmente me causar um adoecimento. Mas se eu encontro espaços de afeto e de cuidado para falar sobre isso, passo a ter a possibilidade de validar o meu sofrimento para que eu possa efetivamente aceitar e, em algum momento, elaborar melhor essas perdas”.
Fonte:
Café com as CEOs, evento promovido pelo Valor em parceria com a Marie Claire.
Fernanda Lima.
Dra. Carolina Ambrogini.
Época Negócios – Futuro do Trabalho.
Mundiblue.