Por que mediano é uma palavra ruim?

Por que precisamos ser excepcionais para progedir? Questiona Thomas Curran, professor de psicologia e ciências do comportamento da London School of Economics (LSE) e autor do livro The Perfection Trap – A armadilha da perfeição, em tradução livre.

 

Aventurar-se a fazer muitas coisas, mesmo que resultado não seja perfeito, faz bem para saúde do cérebro. É errando que se aprende! Foto: bolo – Internet.

 

Por que mediano se tornou uma “palavra ruim? Insiste o professor.

Curran estuda inúmeros dados sobre estudantes universitários e perfeccionismo desde 1989.

Ele encontrou um aumento de 40% do chamado perfeccionismo socialmente prescrito.

“O perfeccionismo socialmente prescrito nos torna obstinadamente hipervigilantes sobre o nosso desempenho em relação a outras pessoas”, explica ele.

Geralmente, não consideramos o perfeccionismo como uma falha.

Nós achamos que precisamos dele para ter sucesso.

“Na verdade, observando os dados, você percebe que o perfeccionismo não tem absolutamente nenhuma correlação com o sucesso.  Pelo contrário: o perfeccionismo pode ter diversas desvantagens: prevenção, contenção, procrastinação”, explica o professor.

Podemos ter tanto medo de não parecer perfeitos que acabamos não tentando.

O perfeccionismo não é o segredo do sucesso que muitas vezes pensamos erroneamente que seja.

E não é só questão de nos tornarmos ineficientes.

“O perfeccionismo socialmente prescrito pode ter profundos impactos sobre a nossa saúde mental”, afirma Curran.

Pesquisas demonstram relações entre o perfeccionismo e o aumento dos níveis de depressão, ansiedade e burnout.

Luta constante para sentir-se feliz

Essa resistência em aceitar ser mediano, enfrentada por muita gente, pode ser observada no mundo dos negócios.

Os lideres costumam dizer que não aceitarão da sua equipe “nada menos do que a perfeição” ou que “apenas o melhor não será suficiente”.

Em teoria, parece algo bom, mas, na verdade, ignora a premissa de que para nos aprimorarmos, precisamos cometer erros.

E se ficarmos muito concentrados na perfeição, nosso cérebro pode perder todo o sentido de diversão e criatividade.

“Se você ficar obcecado buscando o que você entende ser a perfeição, irá criar uma enorme desvantagem para si”, afirma a coach de vida Leonaura Rhodes, neurocientista.

Segundo ela, os perfeccionistas vão obter uma imensa dose de dopamina quando atingirem bons resultados.

Mas obter esses picos de dopamina de uma única fonte dificulta a obtenção da mesma dose de outras fontes, ressalva Rhodes.

Ou seja, o cérebro só irá liberar dopamina quando você atingir um nível excepcional.

Por isso, como resultado, se você quiser continuar produzindo essa substância e sentindo o bem-estar gerado por ela, precisará continuar sempre se aprimorando.

“O perfeccionismo rouba das pessoas a capacidade de estar presente, ser feliz e se sentir em paz. Vira luta constante”. Explica Leonaura Rhodes,

Ser mediano mantém saúde do cérebro

Ao tentar coisas novas, você não espera se sair bem logo de início.

E isso pode ter influências positivas sobre a saúde do cérebro.

Quando aprendemos algo novo, nosso cérebro tem essa incrível capacidade de formar conexões neurais, que é chamada de neuroplasticidade.

Se fizermos apenas as mesmas coisas todos os dias, teremos muito pouca neuroplasticidade e isso não é bom para nós especialmente, à medida que envelhecemos.

Portanto, passar tempo aprendendo coisas novas e fazendo aquilo em que somos medianos é um grande investimento para a saúde do cérebro no futuro.

Medir sucesso pelo bem-estar, não pelo dinheiro

Curran defende que o perfeccionismo está profundamente enraizado nos nossos sistemas econômicos.

Nossa economia cresce proporcionalmente ao consumo e, para podermos consumir, precisamos sentir que existem coisas de que precisamos.

Ele afirma que essas sensações nos são condicionadas pela publicidade, através da sensação de que existe um produto ou solução material para aquilo que achamos que não temos.

Para combater isso, Curran acredita que precisamos parar de medir o sucesso pelo dinheiro.

Que tal se preocupar com o bem-estar e a felicidade?

Podemos criar economias que permitam que as pessoas deem o melhor de si, aumentando suas expectativas na vida?

Curran acredita que esses pontos são medidas do sucesso tão importantes quanto o PIB (Produto Interno Bruto, ou soma de riquezas de um país).

Aceite que é impossível ter controle

Como indivíduos, uma estratégia para lidar com o perfeccionismo proposta por Curran é a aceitação radical.

“Aceitação radical é aceitar realmente que existem limites para aquilo que podemos controlar”, explica ele.

Curran usa um barco a vela como analogia.

Em dias com bom vento, você pode viajar por horas.

Em outros, você fica simplesmente flutuando.

E, em outros, você tentará seguir em uma direção, mas será desviado do seu curso.

O importante, para o professor, não é o destino, mas a viagem.

“A viagem significa nos forçar em direção ao destino; a jornada significa ter coragem, ser vulnerável e isso é bom”, explica ele.

Aceitar ser mediano pode trazer alegria

Concentrar-se na alegria e na camaradagem, não na perfeição, permiti a muitas pessoas se expressassem livremente.

Eles não são limitados pelo perfeccionismo socialmente prescrito.

Eles querem simplesmente se divertir mas, não deixando de lado a responsabilidade com projetos e pessoas.

Aceitar que somos um pouco menos perfeitos, um pouco mais medianos, pode simplesmente nos ajudar a viver nossas vidas da melhor forma possível.

Afinal, a tragédia na vida não é fracassar é deixar de aproveitar a vida.

Fonte:

Dr. Thomas Curran, professor de psicologia e ciências do comportamento da London School of Economics (LSE) e autor do livro The Perfection Trap – A armadilha da perfeição, em tradução livre.

Dra. Leonaura Rhodes, Coach de vida e Neurocientista.

Época negócios – Futuro do Trabalho.

Mundiblue.

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