Relatório publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) aponta que até 2,2 milhões de óbitos prematuros podem ser prevenidos nos próximos 50 anos com a tributação de produtos como refrigerantes e sucos de caixinha.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a ACT Promoção da Saúde lançaram a publicação “Tributação das bebidas adoçadas no Brasil – Para que tributar as bebidas adoçadas e como implementar essa política que faz bem para a saúde, a economia e a sociedade”.
Esse relatório, que aposta no projeto de tributação de bebidas adoçadas como uma forma de combater a epidemia de obesidade no mundo, aponta que essa medida por evitar até 2,2 milhões de mortes prematuras nos próximos 50 anos.
Afinal, com a tributação, haveria um aumento no valor desses produtos, desestimulando o consumo.
“Além disso, o relatório oferece dados como recomendação: até 12 colheres de chá de açúcar por dia, e só uma lata de refrigerante. E ele ainda aponta que refrigerantes e sucos de caixinha diets, adoçados com adoçantes artificiais, também têm um impacto negativo importante sobre a saúde, não apenas aqueles que levam açúcar”. Organização Mundial da Saúde (OMS).
Você sabe o que é considerado bebida açucarada?
De acordo com um estudo publicado no British Medical Journal (BMJ), são aquelas que contêm mais de 5% de açúcar em sua composição como:
- refrigerantes,
- sucos de fruta,
- chás e cafés adoçados,
- milkshakes e achocolatados
- energéticos.
Quem explica é o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Cesar Boguszewski, e o médico endocrinologista Ricardo Oliveira.
O relatório
- O consumo de bebidas açucaradas está associado a maior risco de obesidade na infância e na vida adulta, cáries, diabetes tipo 2, hipertensão e uma série de outros problemas de saúde, como o agravamento na saúde mental.
- O consumo excessivo de açúcar é uma das principais causas do excesso de peso e consequentemente, de doenças relacionadas;
- O consumo de dois ou mais copos de bebidas adoçadas por dia foi associado a um risco 17% maior de morte prematura;
- O consumo de dois ou mais copos de bebidas adoçadas com açúcar por dia foi associado a um risco 59% maior de morte por doença do aparelho digestivo;
- O consumo de dois ou mais copos de bebidas adoçadas com adoçantes por dia foi associado a um risco 52% maior de morte por doenças circulatórias;
- Uma única lata de refrigerante contém, em média, 7,5 colheres de chá de açúcar quando o limite máximo aconselhado pela OMS para um adulto é de 12 colheres de chá de açúcar para um dia inteiro (considerando a recomendação de não ultrapassar 10% do total de calorias consumidas);
- Apesar de serem altamente calóricas, as bebidas açucaradas têm um baixo valor nutricional e contribuem pouco para a saciedade;
- A OMS recomenda que a ingestão diária de açúcar não ultrapasse 10% do consumo total de calorias, sendo preferencialmente menor que 5%.
Por essas razões, a adoção de uma tributação específica para bebidas açucaradas tornou-se uma recomendação da OMS e vem se mostrando uma ferramenta efetiva nos países em que já foi implementada.
Evidências demonstram que uma tributação que afete o preço dos produtos resulta na redução do consumo, ajuda na conscientização da população, que passa a fazer escolhas alimentares mais saudáveis, e ainda fornece uma nova fonte de recursos, que podem ser usados para financiar programas e serviços sociais e de saúde pública, potencializando ainda mais os ganhos para a população.
Experiência de vida: “Onde está este financiamento que pode ser usado? Na prática não é o que a gente vê. A minha vontade era de ter filmado o acontecido mas, não seria ético, então fiz um relato em vídeo. Abaixo” Mundiblue/Silânia Costa, diretora e enfermeira do trabalho. Aconteceu na data do dia 20 de setembro de 2023.
O brasileiro consome, em média, 18 colheres de açúcar por dia, enquanto a recomendação máxima é de 12, segundo a OMS.
Então, reduzir o consumo de bebidas açucaradas tem se mostrado uma estratégia um tanto quanto necessária para melhorar os níveis de saúde em geral.
No entanto, pode ser preciso mexer no bolso para isso.
Exemplos de outros países, como é o caso do estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, em que houve uma redução do consumo de açúcar após a maior taxação de impostos sobre as bebidas açucaradas, podem ser modelos para o Brasil se pautar.
“Acredito que nós brasileiros, podemos utilizar e trazer para nossa realidade esses exemplos que deram certo em outros países. Então, talvez essa orientação de aumento dos impostos possa ser uma estratégia válida do ponto de vista de saúde pública, no sentido de reduzir o consumo e, por conseguinte, a incidência de obesidade,” opina Ricardo Oliveira.
De que forma o açúcar age no corpo?
De acordo com Cesar Boguszewski, o açúcar é um combustível, uma fonte de energia (carboidratos), podendo aparecer na forma de glicose, frutose ou sacarose.
Basicamente, tudo que ingerimos se transforma em um desses açúcares.
A glicose é o principal combustível que temos para as células funcionarem e, quando adquirimos esses nutrientes, o nosso organismo utiliza isso para o funcionamento de todas as células e todos os órgãos ou, guarda sobre a forma de glicogênio no fígado e no tecido muscular.
Se a pessoa tiver uma ingestão muito alta de carboidratos, irá acumular muito glicogênio no tecido adiposo, que resulta em um excesso de adiposidade, o que chamamos de sobre peso e obesidade.
“Diversos estudos apontam para uma relação entre um consumo maior de açúcar refinado e uma maior a taxa de doenças metabólicas, como obesidade, síndrome metabólica, diabete tipo 2, dentre outros. Um dos grandes motivos dessa associação é pelo fato de o açúcar refinado ser um alimento com uma alta densidade calórica, de modo que, se ingerir grandes quantidades pode acarreta em um problema futuro. E isso é ainda mais verdadeiro quando falamos de bebidas açucaradas, onde o indivíduo consegue fazer uma alta ingestão calórica de uma vez, como quando ingere sucos de caixinha e refrigerantes,” aponta Ricardo Oliveira.
Contudo, Cesar Boguszewski destaca que a obesidade não se dá só pelo açúcar em si, mas pela alta ingestão de calorias e, na população brasileira, vale ressaltar que o consumo de carboidratos é muito alto.
Em relação às bebidas açucaradas, por serem extremamente ricas em açúcares, elas promovem um grande aumento da obesidade e suas consequências ao longo do tempo.
Obesidade e na diabetes
Segundo Cesar Boguszewski, com a obesidade, o excesso do tecido gorduroso no corpo, principalmente se essa gordura for a chamada visceral, aquela que fica na região do abdômen, entre as vísceras, cria um processo chamado de resistência insulínica.
Ou seja, o mecanismo de ação da insulina, que é produzida no pâncreas e que deve pegar esse açúcar que a gente consome e jogar para dentro das células, fica comprometido.
É como se você imaginasse um carro: ele precisa de gasolina, e a gasolina seria a glicose.
Essa gasolina tem que entrar no tanque do carro, mas não entra facilmente sozinha, precisa daquela bombinha do posto de gasolina para o carro funcionar.
Imagine que ali onde vai entrar a bomba de gasolina do nosso carro está meio enferrujado e ali cria uma resistência para aquela bombinha entrar e jogar a gasolina pra dentro do tanque (como o excesso de tecido gorduroso faz com as céluas do nosso corpo).
Então isso seria mais ou menos o mecanismo de resistência insulínica, que vai levar, inicialmente, a uma compensação do pâncreas produzir muita insulina (hiperinsulinemia) e, dependendo de outros fatores genéticos, ambientais, de nutrição, etc, o indivíduo vai, com o tempo desenvolver uma falha da produção dessa compensação (produção de mais insulina e de mais uso dessa bombinha do tanque).
E aí acontece o aparecimento do diabetes.
Então, o diabetes tem uma relação muito direta com o excesso de peso: à medida que a população engorda muito, também aumenta muito a prevalência de diabetes.
Junto a isso, a pressão arterial, a gordura do sangue, o colesterol e os triglicerídeos aumentam e, tudo isso em conjunto representa o que leva o nome de síndrome metabólica.
Para completar, a obesidade também está associada ao desenvolvimento de neoplasias (cânceres) e a piora de doenças mentais.
Existem vários tipos de câncer, como o de ovário, mama, intestino, tireoide, entre outros, os quais têm uma alta prevalência em indivíduos com obesidade.
Além disso, câncer, diabetes, hipertensão, quadros de dislipidemia etc, levam a um aumento de risco de infarto agudo do miocárdio, de doença vascular cerebral e acidente vascular cerebral (AVC).
A vida é mais doce sem bebidas adoçadas
A própria Sociedade Brasileira de Diabetes preconiza que exista um limite no consumo de açúcar refinado, visando evitar o desenvolvimento de obesidade e também tratar os indivíduos que já têm obesidade, e o mesmo é válido para os pacientes com diabetes, seja tipo 1 ou tipo 2.
“Combater o excesso de peso a obesidade na população é uma coisa extremamente importante em termos de saúde pública, porque os maiores gastos que o Governo tem em saúde pública, com o Ministério da Saúde e o SUS, são com doenças crônicas não transmissíveis – obesidade, diabetes, hipertensão, câncer outros. Então, qualquer medida tomada para diminuir a prevalência de obesidade na população colabora para a diminuição da prevalência dessas doenças. Com a diminuição dessas doenças, há um impacto econômico extremamente importante, pois são gastos bilhões de reais todos os anos para o seu combate e tratamento. Sendo assim, ao prevenir, haverá uma redução do risco dessas doenças e uma redução dos gastos da saúde pública no seu tratamento e, logo, uma possibilidade de usar os recursos de saúde pública em outros quadros clínicos,”explica Cesar Boguszewski.
De acordo com Cesar Boguszewski, todas as pessoas, independente de terem ou não diabete, não deveriam consumir esses produtos açucarados, bem como deveriam reduzir muito o consumo de alimentos ultraprocessados.
Afinal, esses alimentos não têm valor nutritivo nenhum, são ricos em açúcar, sal e aditivos como conservantes e aromatizantes e seu consumo a longo prazo pode levar a diversas doenças.
“Na população com obesidade e diabetes, essa redução é praticamente uma parte do tratamento. Nós orientamos para que eles não consumam esses tipos de produtos exatamente por não possuírem valor nutritivo, piorarem o quadro de obesidade da síndrome metabólica e podem levar a essas consequências citadas acima a longo prazo de doenças cardiovasculares, cerebrovascular, câncer, piora na doença mental etc. Portanto, nessas populações, a minha orientação é para que se evite ou reduza ao máximo o consumo de açúcares.” Finaliza o presidente da SBEM.
Fonte:
Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS.
ACT – Promoção da Saúde
Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – SBEM, Cesar Boguszewski.
Médico endocrinologista Ricardo Oliveira.
G1.com Nutrição.
Mundiblue.