Doença afeta 10% a 15% das mulheres que acabaram de dar à luz e, se não tratada, pode evoluir para atos extremos. Redução de dois complexos afeta região do cérebro ligada aos estímulos afetivos.
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“Quando o bebê acordava e eu tinha que ir lá acalentar e dar de mamar, eu pensava em jogar ele na parede. Eu sinto uma dor de falar isso, mas acho importante falar, porque depois que eu expus isso, muita mãe falou: eu também tinha essa vontade. Só que ninguém tem coragem de falar. Uma mãe falar que tem vontade de jogar o filho na parede, recém-nascido, aquela coisa gostosa, é muito difícil.”
Embora forte a declaração da jornalista Thais Souza, ela refere a uma dura realidade enfrentada há pouco mais de um ano, após o nascimento do primeiro filho.
Thais teve depressão pós-parto e só conseguiu superar a doença com a ajuda de tratamento e da família.
“Eu só falava as coisas negativas de se ter filho, mas era porque eu estava sentindo aquilo. Eu achava que era normal, e não era. Era uma questão da doença, da depressão mesmo”, diz. Hoje, ela está grávida do segundo filho.
Alteração neuroquímica
Segundo pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, casos como o de Thais representam 19% das mulheres brasileiras.
Um estudo feito com mulheres que acabaram de dar à luz revelou as alterações no cérebro causadas pela depressão pós-parto.
De acordo com o pesquisador Carlos Eduardo Rosa, houve uma redução do complexo de glutamato no cérebro. A substância é responsável pelo processo da neurotransmissão dos neurônios do córtex cerebral e pela formação de sinapses. O estudo também apontou uma diminuição do complexo de NAA, que compromete o metabolismo.
Além disto, uma das regiões estudadas tem importante papel nas:
- funções executivas relacionadas a adaptação e flexibilidade para lidar com novas contingências,
- resolução de problemas,
- respostas de movimentos e verbais a estímulos externos,
- ativação de memórias remotas,
- direcionamento do comportamento e,
- cognição, que ficam comprometidas em estados depressivos.
“Nós encontramos um marcador biológico de uma alteração bioquímica e metabólica no cérebro, de uma região envolvida na cognição e na regulação do processamento dos estímulos emocionais”, diz Rosa.
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A doença
A médica Flávia Maciel de Aguiar Fernandes de Mendonça explica que, em um primeiro momento após o parto, 50% a 80% das mulheres sofrem algum tipo de tristeza de caráter fisiológico, caracterizada por comportamento melancólico e choro. No entanto, a depressão pós-parto costuma ser um pouco mais tardia.
O diagnóstico também deve levar em consideração o quanto a qualidade de vida da mulher e da dinâmica familiar são afetadas.
“Muitas pessoas acham que não há motivo pra mulher estar assim se o bebê está bem, que é falta do que fazer. Mas, a depressão pós-parto é uma doença como outra qualquer. Como a gente trata diabetes, hipertensão, qualquer outra condição, a depressão pós-parto também precisa ser tratada.”
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Estudo pode auxiliar diagnóstico
Rosa ainda destaca que, quando não diagnosticada, a depressão pós-parto pode se agravar e levar a mulher a desenvolver uma psicose, levando-a a tomar medidas extremas como o suicídio.
Para o pesquisador, o estudo que apontou as alterações neuroquímicas poderá permitir, no futuro, que a técnica integre a metodologia para se chegar ao diagnóstico.
“Esse exame pode ser utilizado com o intuito de saber se a paciente poderá responder mais ou menos a determinados tipos de intervenções terapêuticas, a alguns remédios ou intervenções de neuromodulação.”
Entenda o que é o baby blues
Cuidar de um bebê está longe de ser uma tarefa fácil e, algumas mulheres, enfrentam sozinhas esta jornada, o que torna tudo ainda mais complicado.
A expectativa da maternidade e o tamanho da responsabilidade de gerar uma vida e cuidar de um bebê podem transformar a alegria deste momento em um misto de melancolia e medo.
Assim começa o chamado “baby blues”, que é mais comum do que se imagina e atinge entre 60 e 80% das mães.
Esta tristeza pós-parto pode ser gerada por sintomas como:
- preocupação excessiva com a saúde do bebê,
- ansiedade,
- nervosismo,
- dificuldade de se concentrar,
- cansaço,
- dificuldade para dormir,
- choro sem motivo.
Entenda a depressão pós-parto
Já a depressão pós-parto nem sempre é percebida durante a gestação ou logo após o parto, mas tem sintomas muito mais atenuantes.
É um transtorno psiquiátrico grave.
“Ela irá surgir de forma intensa logo após o nascimento do bebê. Em que a mãe irá ficar totalmente apática em relação ao filho.”, explica a psicóloga Marilene Kehdi.
Segundo a especialista, há casos em que as puérperas não têm sentimentos em relação ao filho que acabou de nascer. Os médicos recomendam, inclusive, o afastamento entre mães e bebês para dar início ao tratamento.
Na depressão:
- tristeza é constante;
- há um enorme sentimento de culpa (nem sempre com motivo claro);
- autoestima baixa;
- a mãe está sempre desanimada e cansada ao extremo;
- pouco ou nenhum interesse pelo bebê;
- incapacidade de cuidar de si mesma e do filho;
- tem medo de ficar sozinha;
- não tem apetite;
- falta de prazeres nas atividades diárias;
- insônia.
- pode atentar contra própria vida e a vida do bebê.
As mães precisam de toda atenção e ajuda após o parto. Depressão pós-parto também é mais comum do que imaginamos.
A cada quatro mulheres, mais de uma têm sintomas de depressão no período de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê.
A informação é de um estudo realizado pela pesquisadora Mariza Theme, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), e publicado em 2016.
A maior incidência da doença está entre as mulheres que já foram depressivas ou tenham casos de depressão na família.
Fonte:
Universidade de São Paulo – USP Faculdade de Medicina
EPTV – Emissoras Pioneiras de Televisão – Estado de São Paulo e Minas Gerais
VTV da Gente
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz)
Grão de Gente
www.graodegente.com.br