Psiquiatria e tabagismo

A nicotina é uma substância que causa dependência, isto é, causa uma necessidade compulsiva por cigarro.

 

A medida que se estabelece esta dependência, o hábito de fumar envolve também várias associações; por exemplo, fumar bebendo um cafezinho. Estas associações, conforme vão se repetindo, se tornam hábitos quase inseparáveis.

Assim várias outras associações se estabelecem com o passar do tempo, transformando o cigarro num companheiro fiel. Devemos também enfatizar um outro aspecto do tabagismo: a dependência psicológica.

Lentamente o fumante vai dando ao cigarro um sentido ou função em determinadas situações ou momentos. Por exemplo:

  • como forma de aliviar o estresse,
  • relaxar,
  • sentir-se menos só,
  • estimular a criatividade
  • e assim por diante.

Esta função dada ao cigarro adquire um caráter, em alguns casos, muito importante podendo acarretar num sentimento muito grande de perda ou falta quando da cessação do hábito.

Por tudo isto fica fácil compreender porque é tão frequente as pessoas quererem e não quererem parar de fumar. É a ambivalência.

É a luta entre o conhecimento da necessidade de parar, a consciência dos males físicos que causa o cigarro e a vontade também de continuar, não perder o companheiro, o auxílio, e até a rotina já estabelecida.

Além disto, ao suspender o uso do cigarro, desencadeia-se a síndrome de abstinência. Uma vez que a nicotina aspirada na fumaça do cigarro, vai ao cérebro e cria uma dependência física, isto é, o cérebro se acostuma a ter esta nicotina no seu funcionamento, a sua retirada pode causar diversos sintomas.

Estes variam muito de pessoa para pessoa e também conforme o número de cigarros fumados ao dia. O sintoma mais comum é o desejo compulsivo por fumar.

Este vai diminuindo após alguns dias e tende a desaparecer em aproximadamente duas semanas. Outros sintomas comuns são:

  • tensão,
  • irritabilidade,
  • tonturas,
  • insônia,
  • dificuldade de concentração.

Entretanto é importante salientar que frequentemente não se observam sintomas de abstinência após a cessação, porém o desejo e a vontade de acender um cigarro pode durar muitos meses.

Conforme o Manual Estatístico de Doenças Mentais IV edição e a classificação Internacional de doenças, o CID 10, a dependência à nicotina constitui-se um transtorno mental.

Assim, fumar leva à dependência à nicotina. Vários trabalhos abordam a relação entre o fumo e outros transtornos psiquiátricos. Alguns mostram haver uma associação entre depressão e tabagismo.

Pessoas com história de depressão possuem mais dificuldade em manterem-se abstinentes e que sofrem de sintomas de abstinência em maior intensidade do que pessoas sem história de depressão.

 

Então, a intensidade dos sintomas de abstinência é que faz com que os fumantes voltem ao consumo de cigarros?

Os estudos feitos nesta área mostram que não existe relação entre a intensidade dos sintomas físicos e psicológicos durante o período de abstinência e a recaída.

Até porque geralmente a recaída se faz após o período de maior intensidade de abstinência.

Dados estatísticos mostram que:

  • 65% das pessoas recaem nos primeiros:3 meses;
  • 75% recaem em 6 meses e, em 12 meses,
  • 80% dos fumantes que tentaram largar o cigarro voltaram a fumar.

A recaída, sim, está ligada a presença de sintomas depressivos durante a vida do paciente.

 

Mas existe relação direta, causal, entre depressão e fumo?

Até o momento esta associação mantém-se no plano especulativo, com hipótese da presença de um terceiro fator que propiciasse tanto a dependência a nicotina quanto a depressão.

Assim, poucos são os trabalhos que abordam especificamente a relação entre o fumo e transtornos mentais. No entanto, o fumo se associa a várias patologias psiquiátricas, especialmente transtornos de ansiedade, esquizofrenia e fobia social.

Uma pessoa ansiosa pode fazer uso do cigarro como calmante, ou um fóbico pode encontrar no cigarro um fator de segurança para enfrentar alguma situação.

Como qualquer outra dependência química, o cigarro não é diferente. Parar de fumar exige esforço, persistência e um certo grau de sofrimento.

Freud, o pai da psicanálise, passou a maior parte de sua vida fumando e provavelmente morreu em consequência deste hábito.

Conforme escreveu Peter Gay prazer que o uso continuado do tabaco dava a Freud, ou mais precisamente, sua incurável necessidade dele, devia ser irresistível. 

Freud admitia ser viciado em charutos. A incapacidade de Freud em parar de fumar ressalta vividamente a verdade contida em sua observação sobre uma disposição extremamente humana.

Disposição esta que ele chamou de saber e não saber e que seria um estado de apreensão racional que não resulta numa ação compatível.

É a mesma experiência que sofre todos os que desejam suspender um vício: saber o quanto determinado hábito é desaconselhável e simplesmente persistir em mantê-lo.

 

 

Fonte:

www.aprs.org.br

Associação de Psiquiatria do Rio Grande Do sul

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