Em uma época marcada pela aceleração da inteligência artificial, dos algoritmos preditivos e dos dashboards que atualizam em tempo real, seria natural imaginar que o sucesso dos grandes executivos dependeria cada vez mais de conhecimento técnico e domínio de ferramentas computacionais. Mas um novo movimento quase silencioso, porém profundamente transformador, tem ganhado espaço nos círculos de poder corporativo: o retorno à inteligência analógica.

Sim, você leu certo. Em um cenário onde a IA domina a execução, CEOs, fundadores de startups bilionárias e gestores de fundos estão voltando ao que parecia ter sido esquecido nas últimas décadas: o estudo das humanidades.
Filosofia, história, literatura, geopolítica, antropologia.
Disciplinas consideradas “pouco aplicáveis” até recentemente estão agora na mesa de leitura de quem decide o futuro de empresas e países.
Por quê? Porque pensar voltou a ser diferencial.
O que a IA não pode fazer (Ainda)
A inteligência artificial já assume tarefas que antes demandavam horas de análise humana: processa relatórios, identifica padrões, faz análises de risco, realiza projeções, sugere alocações e até executa ordens automaticamente.
Porém, há algo que a IA — mesmo a mais avançada — ainda não consegue fazer:
- pensar moralmente,
- contextualizar historicamente,
- entender nuances culturais,
- decidir com base em valores ou antecipar crises de legitimidade política.
E é exatamente aí que entram as humanidades.
CEOs estão lendo Spinoza, Clausewitz e Shakespeare
Cursos de universidades como Yale, Oxford e St. Gallen estão lotados, não por estudantes de graduação, mas por executivos e investidores de alto calibre.
O curso “Grand Strategy” de Yale, por exemplo, tem sido referência global para quem deseja pensar decisões corporativas com base em lições de grandes guerras e conflitos diplomáticos.
Na Suíça, o curso “Philosophy for Investors” ensina como pensadores como Kant, Nietzsche e John Rawls podem contribuir com a formulação de estratégias empresariais justas e eficazes.
E mais: clubes de leitura, antes restritos a intelectuais ou entusiastas, agora são mantidos dentro de family offices como prática mensal.
Discutem-se clássicos como Guerra e Paz, A República, O Príncipe ou O Leviatã, e como esses textos iluminam questões como risco, liderança, legado e governança.
A inteligência analógica é um antídoto contra o reducionismo algorítmico
Em entrevista recente, um CEO de um fundo global confidenciou:
“Hoje, meu diferencial está mais em ter lido Guerra e Paz do que o manual do Excel. A IA já faz isso melhor do que eu.”
Essa frase resume bem o espírito do momento: o pensamento de máquina é imbatível em eficiência, mas limitado em profundidade.
É ótimo em responder ao como, mas ineficaz diante de perguntas como por quê, para quê e com quais consequências.
A inteligência analógica baseada em reflexão lenta, comparação histórica, intuição moral e compreensão de contexto é o que permite decisões que resistem ao tempo.
É o que separa o gestor mediano do visionário.
O retorno das humanidades não é nostalgia é estratégia
Durante décadas, o mundo corporativo foi dominado pela técnica – MBAs, engenharia financeira, matemática aplicada.
Isso não está errado e nunca foi.
Mas, em um ambiente saturado por análises quantitativas, as decisões realmente disruptivas vêm da capacidade de enxergar além do número.
Entender a história da ascensão e queda de impérios pode ser mais relevante para quem toma decisões estratégicas do que conhecer os detalhes de uma API.
O mesmo vale para CEOs que precisam avaliar fusões internacionais: conhecer a geopolítica e o pensamento estratégico de Carl von Clausewitz ou Sun Tzu que oferece mais clareza do que simulações algorítmicas isoladas.
Filosofia como ferramenta de liderança
Filosofia não é apenas um exercício abstrato.
É uma ferramenta de autoconhecimento, tomada de decisão e liderança.
Estudos como os de William Irvine (sobre estoicismo aplicado) ou a análise de Peter Koestenbaum sobre liderança filosófica mostram que líderes com repertório filosófico tomam decisões mais equilibradas, comunicam com mais clareza e lidam melhor com dilemas éticos, algo essencial em tempos de crise de reputação, cancelamentos e pressões ESG (Ambiental, Social e Governança).
*Pressões ESG referem-se à influência exercida sobre as empresas para que adotem práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) em suas operações. Essa pressão vem de diversas partes interessadas, como investidores, consumidores, colaboradores e reguladores, que esperam que as empresas demonstrem responsabilidade e sustentabilidade em suas ações
História como radar para o Ffturo
A famosa frase de Winston Churchill “quanto mais você conseguir olhar para trás, mais longe conseguirá enxergar para frente” nunca fez tanto sentido.
CEOs que compreendem ciclos históricos, padrões de colapso e reorganização econômica conseguem tomar decisões mais ancoradas.
A história permite identificar quando estamos vivendo um momento verdadeiramente novo ou apenas um eco do passado disfarçado de inovação.
Humanidades como vantagem competitiva
Diversos estudos em neurociência e psicologia cognitiva confirmam: a leitura de textos complexos, como os literários e filosóficos, estimula regiões cerebrais ligadas à empatia, criatividade, pensamento crítico e tomada de decisão em ambientes ambíguos.
Em um mundo onde o hard skill está sendo automatizado, os soft skills agora chamados de power skills, passam a ser o diferencial.
E são exatamente essas habilidades que a leitura profunda e a reflexão humanística desenvolvem.
O futuro da liderança é interdisciplinar
A liderança do futuro será híbrida.
Não bastará conhecer tecnologia, será preciso saber usá-la com propósito.
Não bastará dominar relatórios ESG; será necessário entender o que sustentabilidade realmente significa.
Não bastará aplicar modelos preditivos, será essencial interpretar seus limites éticos e sociais.
A liderança que inspirará nos próximos anos será aquela que une inteligência técnica com profundidade humanística.
CEOs que frequentam seminários sobre Hannah Arendt e Joseph Schumpeter terão mais preparo para lidar com crises institucionais do que aqueles que apenas decoraram fórmulas de valuation.
Pensar é a nova revolução
A volta à inteligência analógica não é moda.
É resposta.
Em um cenário onde tudo pode ser medido, quem toma decisões precisa aprender a interpretar o que não se mede.
Precisamos menos de operadores e mais de estrategistas.
Menos de executores e mais de pensadores.
É curioso – quanto mais avançamos tecnologicamente, mais valorizamos o que nos torna humanos.
E talvez esse seja o verdadeiro papel da inteligência artificial, não substituir, mas liberar tempo para que possamos voltar a fazer o que fazemos de melhor: imaginar, criar, decidir com propósito.
Aos líderes que desejam se destacar na era da IA, talvez seja hora de menos dashboards¹, e mais Dostoievski².
1 – Dashboard, também conhecido como painel ou painel de controle, é uma ferramenta visual que apresenta informações e métricas importantes de forma organizada e fácil de entender. Ele serve como um resumo de dados, permitindo que usuários monitorem o desempenho de um negócio, projeto ou processo de forma rápida e eficiente, facilitando a tomada de decisões.
2 – Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski foi um escritor, filósofo e jornalista do Império Russo. É considerado por muitos um dos maiores romancistas e pensadores da história, bem como um dos maiores psicólogos que já existiu, ao considerar a designação e etimologia mais ampla do termo, como investigador da psique.
Fonte:
Eduvem, plataforma líder na construção de Universidades Corporativas, reconhecida internacionalmente pela experiência inovadora de aprendizagem digital.
Mundiblue.