Adiar cotidianamente responsabilidades pode fazer com que você chegue 20 minutos mais tarde no trabalho todo dia ou atrasar por anos a entrega de uma dissertação
“Eu atraso todos os dias no trabalho. Faço pequenas coisas aleatórias que demoram de 5 a 10 minutos. Na internet. No banheiro. Na cozinha. Deus sabe o que acontece, mas todo dia eu chego no trabalho 9h20. E isso ocorre há anos”
Esse post anônimo do fórum de discussões Reddit, resume um problema enfrentado por muita gente na batalha diária entre trabalho e atividades paralelas, como discussões no Facebook, jogos on-line, um pulo naquele encontro de amigos e devoradores de tempo em geral: a procrastinação.
A palavra quer dizer adiamento, delonga. Para quem sofre com o problema cotidianamente, em geral, consiste em trocar a execução de uma tarefa importante, mas pouco prazerosa, por pequenas distrações.
O hábito de perder o horário para o trabalho, apesar de ter consciência sobre o sofrimento que essa atitude pode gerar, mostra como pode ser difícil deixar de procrastinar.
A prática pode servir para adiar atividades mais prosaicas como, arrumar o quarto ou responder a um e-mail Mas, também outras mais relevantes como, terminar um relacionamento, escrever a dissertação de mestrado ou dar os passos para mudar de carreira.
Além do estresse cotidiano de chegar atrasado, a procrastinação pode tornar irrealizável atividades complexas que exigem constância e persistência, como aprender a tocar um instrumento, ou finalizar um livro.
Os resultados são: frustração, baixa autoestima e uma gaveta abarrotada de projetos não realizados.
De onde vem a procrastinação?
De acordo com o professor Hélio deliberador do departamento de psicologia social da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, a procrastinação vem da dificuldade de elencar e agir de forma prática de acordo com prioridades. Essa dificuldade é agravada pela oferta de distrações do mundo digital.
“Esse adiamento constante é um mal de nosso tempo, onde as pessoas têm várias maneiras de se perder. Elas deixam de fazer um planejamento adequado de suas vidas e se perdem em atividades secundárias”
Medo de falhar: Procrastinadores perfeccionistas
Uma causa de fundo constantemente associada à procrastinação é o medo de falhar. Segundo a psicóloga Sally-Anne McCormack, esse é o motivo pelo qual perfeccionistas são com frequência procrastinadores.
“Perfeccionistas são grandes procrastinadores porque querem que tudo seja perfeito. Vão evitar realizar uma tarefa para a qual tiveram duas semanas até a noite anterior ao fim do prazo, para poderem dizer: ‘claro que eu não consegui um resultado 100%. Eu não tive tempo o suficiente para fazê-lo’”
Procrastinador indeciso
Outro perfil comum de procrastinador é o procrastinador indeciso: aquele que adia, de propósito, a tomada de uma decisão. De acordo com Joseph D. Ferrari, psicólogo da universidade de DePaul, em Chicago, e autor de livros sobre a procrastinação, a indecisão é outra forma de justificar um fracasso.
“Claro que compilar fontes de informação é útil e produtivo, mas algumas pessoas parecem ser incapazes de tomar decisões – esses são os procrastinadores mais sérios. Eles deixam que outros decidam por eles, para que não haja culpa a ser atribuída a eles”
Culpa e estresse
Pequenos prazeres como assistir a uma série na Netflix ou conversar com amigos no Facebook, evitam momentaneamente o estresse. Mas de forma parcial.
Em geral, o procrastinador sabe que está apenas desviando do trabalho da faculdade, da noite de estudos ou do processo de se arrumar para o trabalho e se sente culpado por isso.
Mesmo na hora em que são vividos, esses prazeres são maculados pelo remorso.
Para quem se atrasa constantemente com a procrastinação, o sentimento é de que o tempo não basta, de que a vida é uma correria constante.
Segundo Joseph Ferrari Professor de psicologia adaptativa da DePaul University em Chicago e autor de livros sobre a procrastinação, no longo prazo, o sofrimento é maior, seja por entender que o tempo foi desperdiçado em uma tarefa improdutiva e pouco prazerosa, seja pelo estresse de não entregar o trabalho exigido.
“Muitos não veem a procrastinação como um problema sério, mas como uma tendência comum a ser preguiçoso ou ocioso. Mas é muito, muito mais. Para os procrastinadores crônicos, não é uma questão de administração de tempo – é um estilo desajustado de vida”
Como lidar com a procrastinação
Para mudar seus hábitos, o procrastinador precisa treinar a própria mente a encarar as coisas de uma outra forma, um processo que pode demorar meses de acordo com Guy Wich Psicólogo e autor de ‘Primeiros socorros emocionais’
“Você literalmente tem que treinar a sua mente a lidar com as coisas de uma forma diferente do seu padrão – então você tem que estar preparado para realizar esse investimento”
Buscar um psicólogo ou um psiquiatra são recomendáveis para os casos de procrastinadores crônicos, afirma Deliberador, da PUC. Segundo Sally MecCormack quem deseja parar de procrastinar deve:
Deixar de adiar as atividades
Uma boa forma de evitar procrastinação é evitar distrações. Se for estudar, limpe sua mesa e se comprometa a não fazer paradas para um lanche, por exemplo. Se for difícil criar um ambiente para a concentração em casa, vá para outro local, como uma biblioteca pública, por exemplo
Dividir seus problemas
Um dos motivos pelos quais procrastinadores adiam vem do fato de imporem a si mesmos desafios grandes demais para abordar. Uma boa forma de lidar com esses desafios é dividi-los em pequenas etapas. Escrever uma dissertação é uma tarefa menos assustadora quando pensamos em um número de páginas por dia
Adotar prazos
Trabalhos escolares ou a declaração do Imposto de Renda têm prazos bem definidos mas, muitas outras tarefas pequenas não. Se você tem um e-mail que precisa responder ou precisa arrumar o seu quarto, defina um prazo final e se a tenha a ele.
Fonte:
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/06/06/Procrastina%C3%A7%C3%A3o-o-h%C3%A1bito-di%C3%A1rio-de-adiar-a-pr%C3%B3pria-vida