Seis em cada dez mulheres acham que igualdade de gênero no setor ‘tech’ regrediu, diz estudo

Mesmo com 81% se sentindo prontas para liderar, tensões geopolíticas e redução dos programas de diversidade têm minado avanços femininos na tecnologia.

 

61% das entrevistadas discordam de que a indústria da tecnologia esteja tomando medidas apropriadas para combater a desigualdade de gênero. Foto: Mundiblue.

 

A igualdade de gênero no setor de tecnologia regrediu no último ano, na visão de seis em cada dez mulheres que trabalham na área.

Embora elas se sintam mais preparadas do que nunca para liderar equipes (81%), mais da metade (56%) delas acha que o atual cenário geopolítico – com o encerramento de metas e programas de diversidade por empresas e agências federais nos Estados Unidos,  está afetando a presença de mulheres numa área já escassa e dominada pelos homens.

É o que apontam os dados da sexta edição do relatório State of Gender, que anualmente investiga a participação feminina global no setor tech e seus desafios.

A pesquisa é realizada pela equipe do programa de inclusão Women in Tech, do Web Summit, principal evento de tecnologia e inovação do mundo.

Os resultados foram divulgados poucas semanas antes da edição de Lisboa, entre os dias 10 e 13 de novembro.

Dimensão geopolítica trava diversidade

Os números revelam uma mudança drástica de um ano para o outro na pesquisa.

Em 2024, 51% das mulheres acreditavam que a igualdade de gênero no setor tech estava melhorando.

Este ano, 60% relataram que este movimento piorou.

A maioria delas acredita que essa regressão se deve à redução dos programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) e à instabilidade global, que tem deixado as pautas de gênero em segundo plano.

Outras apontam para o chamado “clima de guerra”, que teria limitado o financiamento de projetos voltados à capacitação de mulheres e diminuído os recursos destinados à diversidade nas empresas.

Segundo a pesquisa, 61% das entrevistadas discordam de que a indústria da tecnologia esteja tomando medidas apropriadas para combater a desigualdade de gênero.

Sexismo persiste

Mesmo que as mulheres estejam se sentindo mais confiantes e preparadas no mercado de tecnologia, os desafios diários seguem praticamente os mesmos, de acordo com as últimas edições da pesquisa.

Preconceito, falta de representatividade em cargos de liderança e ausência de equilíbrio entre vida pessoal e profissional são entraves antigos.

Quase metade das entrevistadas (49%) relatou ter sofrido sexismo ou algum tipo de preconceito nos últimos 12 meses.

Em 2024 e 2023, estes percentuais ficaram em 51% e 54%, respectivamente.

Para elas, o machismo se manifesta mais de forma implícita.

Ele aparece quando:

  • elas são interrompidas em reuniões,
  • quando têm suas ideias ignoradas ou reexplicadas por colegas homens,
  • até em dúvidas recorrentes sobre expertise técnica.

Além disso, mais de oito em cada dez mulheres disseram que sentem que precisam  esforçar mais do que os colegas, para provar seu valor, o maior índice dos últimos três anos.

Optar pela carreira ou por ter uma família ainda é um dilema.

Mais da metade das entrevistadas (56,5%) relatou que precisa escolher entre uma coisa e outra, uma alta de mais de sete pontos percentuais em relação ao ano passado.

IA como aliada

Apesar de os entraves continuarem, elas se veem otimistas quanto ao papel que a tecnologia pode ter para reequilibrar o jogo.

A maioria das mulheres (77%) disse usar ferramentas de inteligência artificial todos os dias, e três em cada quatro acreditam que a IA e a automação podem promover mais inclusão, criatividade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Por outro lado, uma em cada quatro tem receio de que a tecnologia possa acabar reforçando vieses de gênero já existentes.

A pesquisa ouviu 671 participantes da comunidade global Women in Tech, programa do Web Summit.

Há respondentes da Europa, América do Norte e do Sul, Ásia e África.

As idades variam de 18 a 74 anos, com maioria entre 35 a 44.

Fonte:

Women in Tech, do Web Summit – Evento de tecnologia e inovação do mundo.

Época Negócios – Futuro do Trabalho

Mundiblue.

 

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